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Professor Dr Thiago Bernardino de Carvalho
Unesp/Botucatu

 
 
O mercado lácteo em 2021 sinaliza mais um ano desafiador para a cadeia de leite no Brasil. Os recordes de preços históricos no ano passado são o contraponto do aumento dos custos de produção, principalmente pelo lado da alimentação, com o maior impacto do concentrado, mas também pelos insumos atrelados ao câmbio, como o diesel e os medicamentos.
 
Esta última variável, o câmbio, poderia também jogar a favor do mercado, que com um Real desvalorizado, poderia deixar o produto nacional atraente no mercado externo, mas que ao contrário não ocorre.
 
O fato do Brasil importar mais produtos lácteos, do que exportar, como o registrado no ano passado e desde o ano de 2008, é reflexo de muitos fatores macroeconômicos, como política externa, acordos comerciais, taxas cambiais e fatores microeconômicos, entre eles a produtividade e a competitividade do produto nacional.
 
Se a alta do dólar, deveria ajudar a frear importações e elevar exportações, e fato este não vem ocorrendo, o cenário reflete a falta de produto no mercado doméstico, que vem sendo ocasionado pelos custos elevados de produção, um maior destino de animais para o mercado de carne e uma baixa perspectiva de crescimento do mercado de consumo nacional, o que vem desestimulando investimentos na cadeia no curto e médios prazos, seja por parte da indústria, seja por parte dos produtores.
 
A baixa oferta que vem sendo observado no mercado brasileiro, faz com que as cotações do leite pago ao produtor e seus derivados se elevem e pontualmente melhorem a margem do pecuarista e da indústria. Entretanto, com a sinalização de um ano com alimento ainda em patamares elevados para os animais, o produtor irá conviver com um cenário desafiador: continuar produzindo, com margens cada vez mais estreitas.
 
Mas apesar desse cenário que se desenha de maneira desafiadora, o setor, mas principalmente o produtor que busca uma atividade lucrativa deverá continuar investindo em tecnologia, com o intuito de aumentar sua produtividade e reduzir seus custos fixos.
 
E essa deveria ser a política setorial do Brasil para o setor. Para o país mudar de posição no mercado lácteo e se igualar a outras cadeias agropecuárias, tornando sua balança comercial positiva, a busca pelo aumento de produção e de qualidade é um dos pilares para o desenvolvimento setorial e sustentabilidade social e econômica da cadeia.
 
Como dito, mais um ano se desenha desafiador para o dentro da porteira e o setor externo brasileiro, mas as oportunidades estão cada vez mais próximas e a receita é clara, uma agenda estratégica produtiva e de política comercial. Caso contrário continuaremos a ser importadores líquidos.