Professor Dr Thiago Bernardino de Carvalho
O misto de incerteza e números recordes toma conta do mercado lácteo no ano de 2020. As seguidas valorizações dos preços pagos ao produtor brasileiro desde o mês de maio, que refletem os movimentos sazonais de produção, custo alto de alimentação e rearranjo dos estoques de produtos lácteos, reduziram as preocupações geradas no mercado logo no início da pandemia, refletindo em cotações recordes.
Mas uma nova batalha para o setor está se desenhando no curto e médio prazos: a discussão da desoneração da cesta básica. O que isso tem a ver com o setor lácteo, entre eles, consumidores, laticínios e os produtores?
A discussão baseada nas três propostas que tramitam com mais peso político no Congresso Nacional (PEC 45, PEC 110 e PL 3887), está relacionada a um aumento da alíquota em 25% da cesta básica. Evidentemente que os valores variam de região para região, mas um aumento na alíquota deverá elevar os custos ao longo da cadeia.
Os produtos lácteos representam 7,5 quilogramas na cesta básica, entre eles o leite fluído pasteurizado ou industrializado, o leite em pó, bebidas lácteas, etc. O impacto no aumento da alíquota da cesta básica deverá causar um impacto nos preços do UHT, leite em pó, muçarela e iogurte, na ordem de 17% a 23%, trazendo uma nova dinâmica para toda a cadeia.
É importante lembrar que 74% da população brasileira tem renda familiar de até R$ 1.233,00 por mês, sendo que este montante da população tem cerca de 44,8% dos gastos mensais relacionados à alimentação, aluguéis e medicamentos. Ou seja, um impacto no aumento dos preços dos alimentos que compõem a cesta básica (e isso não é somente para o leite), deverá causar uma redução na demanda por alimentos e outros tipos de produtos.
O aumento dos tributos deverá impactar também a forma de operação da indústria e do varejo, que estarão de frente com uma nova realidade de itens consumidos. A busca por preço e alimentos mais acessíveis pelo consumidor deverão trazer uma nova dinâmica de precificação, apresentação e captação do leite pelos elos da cadeia posterior ao produtor.
Num cenário com custos mais altos ao consumidor e mercado externo sem apetite pelo leite nacional, ocorrerão mudanças estruturais nas relações da cadeia que poderão comprometer o abastecimento.
Resta ao produtor nacional continuar a investir em tecnologia na busca de redução de custo e ganhos de escalas. O produtor tecnificado, que também será impactado, poderá ser o grande beneficiado no curto e no longo prazos com essa proposta em andamento.
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